domingo, 27 de março de 2011

DESEJOS

   
   DESEJOS    
              (parafraseando Osvaldo Montenegro)
        
       Que esta força do tédio que me invade
      Liberdade se torne em minha vida
      - Porque metade de mim é saudade
       - Mas a outra metade é despedida.

            Que não tornem mensagem o resoluto
            E absoluto tema de que  falo
         - Porque metade de mim é o que escuto
         - Mas a outra metade é o que eu calo.

        Que essa minha vontade de ir embora
          Se torne agora a calma que mereço
         - Porque metade de mim é de outrora
          - Mas a outra metade eu nem conheço.

             Que esta tensão que me corrói por dentro

             Seja epicentro de sua própria lei
          - Porque metade de mim é alento
          - Mas a outra metade... já nem sei.

             Que esta minha loucura sem pendor
             Possa compor com a sina de outro alguém
          - Porque metade de mim é amor
            -Mas a outra metade... é também.

                Olavo Bahia Neves (21.12.99)

segunda-feira, 14 de março de 2011

PLUS DE LARMES


PLUS DE LARMES

Parei e renasci em novo apego.
O deserto aqui perto exilou-se em seu vazio

E eu vi – parece incrível ! – todo meu sossego

Ir pastando tranqüilo nas margens do rio.

Parei e renasci cheio de sonho...
Do outro lado da vida minha tenda armei
Onde o céu, onde o sol, onde o libar do outono
Encontro-os eu do jeito como os coloquei

E soltei o novelo-séquito das horas...

Sobraçando as angústias – pú-las de castigo
num canto,  e deitei meu apego à minha volta

E Deus, zeloso, veio conversar comigo!!!

Olavo Bahia Neves

terça-feira, 5 de outubro de 2010

POBREZA MILIONÁRIA


Disseram-lhe que ele não tinha nada
Que sua vida tristonha, abandonada
Era o horror da miséria, a ferida do mundo
Que era um pobre vivente a vagar pela rua
Que nasceu no descuido da noite sem lua
Que era um pobre somente – um pobre vagabundo.

Ele olhou para o alto e nem fez escarcéu
Lançou seus pensamentos a próximos infinitos
Com os olhos fitos no céu – e sorriu.
Ninguém sabe o que olhou, ninguém sabe o que viu...
Pensou talvez numa grande riqueza
Que nem todos os olhos podem divisar
Pela sua infinita grandeza:
Ele tinha um tesouro – da natureza!

Era seu aquele sol tão quente
Que todo dia trazia uma aurora e um poente,
Era sua aquela lua que do alto brilhava a iluminar caminhos,
Era seu o cantar dos passarinhos
As montanhas e os rios,
Os oceanos e os mares que abraçam todas as terras
Num amplexo de amor profundo;
Ele também podia sentir essas terras em seus braços,
Então era dono do mundo!

E chamaram-no pobre, somente:
Um pobre vagabundo?
- Que gente pobre, meu Deus, há neste mundo!!!

Olavo Bahia Neves


(Inspirado num mendigo que morava embaixo da ponte Buarque de Macedo, em Recife-PE, e dizia ser o dono do rio Capibaribe.)