PROCURA-SE
Recompensa-se bem a quem achar
pelas estradas livres da esperança
uma mulher que partiu sem avisar
(disse eu mulher, mas é bem mais criança).
Responde pelo nome de Maria,
é bela e meiga - sem outra virtude
que ser mulher em plácida magia...
- um misto de coragem e mansietude.
Tem ar de quem oculta algum desgosto,
um ricto de abandono antes de adeus,
tem tristeza e candura no seu rosto
e os olhos se parecem com os meus
As mãos são finas e disfarçam bem
(que esforço que fizeram!) seu vigor;
seus cabelos são pretos, mas raiados
com filigranas de ouro multicor.
Quem a encontrar, avise, por favor,
que seu menino está perdido e só
que o flagelo do mundo nele é enorme
e a desumanidade ainda é maior...
Digam que o filho seu - só - se desgarra
E grita e geme pela estrada afora...
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(Deve existir uma lei no céu, na terra,
que proíba uma mãe de ir embora...)
Será que ela morreu? -Mas mãe não morre!!!
Tem dom de eternidade, pois do filho
sem amor maternal a vida escorre
- por mais possante, o trem não vai sem trilho.
Avise sem delongas quem a achar...
Ela tem um sinal particular:
são três letras tatuadas em seu braço
e tem também contida na garganta
uma senha solfejada em seu cansaço
que é a minha cantiga de ninar...
Quero encontrá-la antes que a noite venha
nesse horizonte que o olhar espalma.
Toda mãe só é mãe se, como a minha,
tem um círio de fé aceso n'alma.
Digam-lhe logo, logo sem demora,
que este menino que ressende a lágrima,
este homem-feito que transpira a leite,
pode ficar na curva de uma estrada
de que mudaram o rumo de repente
porque trocou o regaço maternal
por outro mundo sem amor, sem brio,
quase esqueceu um vulto solitário
olhando um leito que ficou vazio...
Se você, minha mãe, ler este anúncio
que rascunho com lágrima em prenúncio
de esperança de paz e de união,
saiba que já sofri demais na vida,
que a minha dor dói mais que a dor doída
no paroxismo da inconsolação.
E volta, minha mãe! Vem por favor
escrever novamente em minha vida
todas as letras da palavra AMOR.
(Olavo Bahia Neves-julho/1970)